Em 2009, a OMS (Organização Mundial de Saúde) alertou sobre o elevado número de pessoas vítimas de sinistros de trânsito em todo o mundo. Como forma de chamar a atenção de todos os países, em 2010, a ONU (Organização das Nações Unidas), lançou a Década de Ação para a Segurança no Trânsito 2011-2020, com o intuito de reduzir, em até 50%, o número de mortos e feridos no trânsito e este ano, a Segunda Década de Ação para Segurança no Trânsito 2021-2030, para dar sequência e incentivar os países a aderirem a esta redução.
O relatório “Balanço da Década de Ação pela Segurança no Trânsito”, desenvolvido pelo OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, considera a crise econômica e a pandemia como fatores decisivos para a redução do crescimento da frota de veículos e a circulação das pessoas, mas não a conscientização da população.
Com base nesse cenário, conversamos com Marcius D’Avila, coordenador de relacionamentos do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, para avaliar qual o impacto dos sinistros de trânsito na questão emocional e na produtividade do indivíduo, no desenvolvimento interno das organizações e, como a adesão à causa social para o trânsito seguro, pode auxiliar na prevenção e conscientização sobre a importância de que todos zelem pela segurança viária.
Laço Amarelo (LA) - Com a retomada das atividades no pós-pandemia, o trânsito se adapta às novas necessidades da população, com demandas de deliveries, aumento da frota de motocicletas e alguns condutores acostumados às ruas mais vazias. Como esses fatores afetam a segurança viária e coloca em risco a vida da população?
Marcius - Os acidentes, nessa retomada das atividades pós-pandemia têm nos preocupado muito. Os números já apontam aumento para o mesmo patamar de mortalidade de antes da pandemia. Inclusive, apenas durante muito pouco tempo, entre março e julho de 2020, é que o isolamento devido à pandemia produziu algum efeito mais significativo. Posteriormente, com o retorno gradual das atividades presenciais, os números voltaram a crescer. O Observatório recentemente publicou uma pesquisa, onde destaca que o mês com maior redução da mortalidade em 2020 foi o mês de abril, com 29% menos mortes que a média dos meses de abril dos três anos anteriores à pandemia. No entanto, em agosto de 2020, o número de mortes no trânsito já havia retornado aos níveis anteriores.
Durante a pandemia, nós tivemos aumentos significativos dos acidentes com motocicleta e bicicleta, em alguns casos, com a população tentando diminuir o risco de uma possível contaminação e propagação de Covid-19, ao preferir o deslocamento por meio da bicicleta, ao invés de utilizar o transporte coletivo público. Com isso, também durante a pandemia, o que nós pudemos verificar é que além de não ter tido uma diminuição significativa, a gravidade dos acidentes que ocorreram, foi maior porque em função das ruas mais vazias, a velocidade média dos veículos foi maior. Então os traumas, em função desses acidentes foram bem mais significativos.
Agora com essa retomada, boa parte dos condutores ficaram um longo período sem dirigir, então tem apresentado esses números graves, bem maiores que anos anteriores, como em 2019, além disso, durante a pandemia, um fator que tem influenciado bastante também nos números de acidentes de trânsito é a saúde mental dos condutores. O impacto foi muito forte na estrutura psicológica das pessoas e isso, como o trânsito é um catalisador da nossa sociedade, a violência no trânsito, temos acompanhado em vários canais de comunicação, a quantidade de agressões e ameaças que ocorrem no nosso dia a dia no trânsito. Então, esses são alguns fatores que nos trazem bastante preocupação.
LA - Em relação à conscientização para um trânsito mais seguro, para ressaltar a importância de seguir as regras de trânsito, mas trabalhando esses temas de maneira prática e didática, como empresas e municípios podem contribuir para a causa da segurança viária para a sociedade como um todo?
Marcius - A conscientização por um trânsito mais seguro é uma tarefa árdua do Observatório e de todos aqueles que trabalham pela Educação para o Trânsito porque no Brasil, 90% dos acidentes ocorrem por fatores humanos. Então, o grande desafio nosso é mudar essa chave, e isso, nós só iremos conseguir mudar com investimento, em um processo contínuo, de médio e longo prazo, levando conteúdo robusto para as pessoas, de forma padronizada, nós vamos conseguir contribuir.
Isso tem sido uma preocupação das empresas porque desde 2017 a principal causa de afastamento de trabalho é o acidente de trajeto, tanto que em 2020, uma MP (Medida Provisória) tentou descaracterizar o acidente de trajeto como acidente de trabalho. Mas para muitas empresas, o impacto da substituição do colaborador, seja pela morte ou pelo afastamento, durante o tratamento dos traumas do acidente, e o impacto no plano de saúde das empresas, pouco impactou. Agora em 2021, como a MP não foi votada, ela perdeu a força de lei e o acidente de trajeto voltou a ser caracterizado como acidente de trabalho.
Além disso, todos esses acidentes trazem um custo social muito alto, além do custo material de cerca de R$56 bilhões por ano. No ano de 2019 o Datasus apresentou mais de 31 mil mortes no trânsito o que significa que morre uma pessoa a cada 16 minutos no trânsito, além de uma pessoa a cada 3 minutos que é deixada com sequelas permanentes. Esses dados nos preocupam muito, assim como o impacto disso para a sociedade.
LA - O OBSERVATÓRIO desenvolve o Programa Laço Amarelo, projeto que dá continuidade durante todos os meses do ano às ações de segurança para o trânsito realizadas em maio, pelo Movimento Maio Amarelo. Como essas ações podem ser desenvolvidas por gestores a favor do trânsito mais seguro?
Marcius - O Observatório, criador do Movimento Maio Amarelo em 2014, era sempre abordado por empresas, por entidades e municípios sobre qual seria a ação dele durante o mês de junho, julho e os demais. Por ser uma entidade sem fins lucrativos, reconhecida pelo Ministério da Justiça, procurou-se as possibilidades de sustentabilidade da instituição. Então, foi desenvolvido o Programa Laço Amarelo, um projeto em que o Observatório, todo mês entrega um conjunto de conteúdo, tanto para a categoria empresa, quanto para as entidades e municípios.
Hoje são mais de 80 empresas que participam desse projeto, como dito anteriormente, desde 2017 a principal causa de afastamento do trabalho é o acidente de trajeto, então a porta de entrada do programa Laço Amarelo nas empresas normalmente se da pela equipe de segurança do trabalho que acompanha o dia a dia desses números e que traz um impacto muito significativo nas contas das empresas, além disso, várias entidades, hoje temos 20 delas, que também fazem esse investimento para que possam levar essa cultura da segurança viária para os seus associados ou então, associações como as seguradoras CNSeg, que distribui isso porque um trânsito mais seguro traz um impacto direto ao custo dessas empresas.
Com relação ao município, é obrigação de lei, está no artigo 24 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), o município é obrigado a desenvolver ações de segurança viária e de Educação para o Trânsito. Hoje no Brasil, nós temos um baixo índice de municipalização do trânsito, um dado que preocupa, apenas 30% dos municípios possuem o trânsito municipalizado e nem todos eles com a estrutura necessária para fazer essa gestão.
Então, como 90% dos acidentes ocorre por fator humano, pelo menos a Educação para o Trânsito deve ser desenvolvida por esses municípios. Assim, o Programa Laço Amarelo auxilia ao município cumprir a sua obrigação legal de levar de uma maneira consistente e continua essas mensagens de segurança viária para toda a população. Nós sabemos que o impacto nas contas públicas dos municípios com os gastos de saúde, decorrente dos acidentes de trânsito, é um fator relevante e que traz, além de toda a dor da perda de um ente querido, muito prejuízo para toda a sociedade.
Marcius D’Avila – Coordenador de relacionamento do OBSERVATÓRIO
Já conhece o Programa Laço Amarelo?
Saiba como aderir: https://bit.ly/30Rhs0R
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