Por décadas, temos atuado sob a suposição de que a cultura de segurança viária segue uma trajetória crescente em nosso país. Quando se trata da educação para o trânsito, a maioria de nós prontamente concorda que essa é uma das principais ferramentas de transformação para um trânsito mais seguro. No entanto, educar para o trânsito não se trata apenas de prevenir acidentes, mas está relacionado também a trabalhar aspectos voltados à civilidade, mobilidade, vida urbana e responsabilidade social.
Pela Lei de Diretrizes e Bases a educação compreende os processos formativos desenvolvidos na nossa vida em família, no contato humano, no trabalho, nas instituições de ensino e de pesquisa, nos movimentos sociais, nas organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Mesmo diante dos diversos desafios, a educação desempenha um papel extremamente importante no desenvolvimento contínuo das pessoas e das sociedades.
Não desconsidero aqui as dificuldades estruturais dos órgãos gestores de trânsito, os problemas relacionados à formação dos profissionais, e tantas outras dificuldades enfrentadas pelo setor de educação. Mas não podemos dizer e aceitar que as limitações existentes inviabilizem todo e qualquer projeto, ideia ou que elas não sejam exequíveis.
A Educação Básica bem-sucedida causa o desejo de continuar a aprender. Pesquisas realizadas pela UNESCO em diferentes países sobre a participação posterior dos adultos nas atividades educativas e culturais defendem que ela está relacionada com o nível de escolaridade das pessoas ocorrendo um fenômeno cumulativo. Ou seja, quanto mais o sujeito é formado, mais desejo ele tem de formação.
Ora, se a educação básica com qualidade causa o desejo de continuar a aprender, iniciar precocemente a preparação dos indivíduos para enfrentar os riscos de um sistema inseguro, vai trazer potencialmente muitos benefícios imediatos e acumulados ao longo da vida. Isso também significa dizer que ao investirmos tempo e recursos na educação, teremos com o passar dos anos profissionais com uma visão mais ampla dos problemas e mais capazes de enfrentá-los.
Acrescento ainda que quanto antes as normas sociais e as regras forem internalizadas de acordo com seu desenvolvimento cognitivo e psicossocial, podemos hipotetizar que mais cedo as crianças e os jovens estarão preparados para um sistema de mobilidade que ainda é imperfeito e por isso, perigoso.
Embora exista conteúdo que dê suporte legal referente à prática da educação para o trânsito, o tema não foi efetivamente adotado e são raras as ações que passam por uma metodologia de avaliação para medir seus resultados. Sem recursos financeiros, a análise da eficácia dessas ações fica comprometida.
Concluo que uma nova prática contemporânea é nitidamente necessária, tanto na análise dos objetivos quanto dos métodos e meios utilizados para avaliar a educação para o trânsito no nosso país. Para transformarmos a dura realidade em que vivemos no trânsito do nosso país, devemos ser críticos e argumentadores, mas sobretudo, devemos “arregaçar as mangas” e colocar as nossas “mãos na massa”. Convido você a nos ajudar neste grandioso desafio!
Roberta Torres
Núcleo de Educação
OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária
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