Para conhecer melhor e entender na prática como trabalha a Prefeitura de Nova York dentro do recém-lançado Programa Visão Zero de acidentes de trânsito, o diretor-presidente do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária José Aurelio Ramalho esteve reunido com os representantes do Departamento de Transportes da Prefeitura da cidade, no início do mês de abril.
A adoção da metodologia sueca para redução de acidentes em 2014 pela Prefeitura de Nova York foi motivada, entre outras causas, pelo aumento no número de mortes ocorridas em 2013 no trânsito da cidade. Em 2012, a cidade de Nova York contabilizou 277 mortes no trânsito. Já em 2013, o número subiu para 286. Este ano, até o início de março, 31 pessoas tinham perdido a vida em choques com automóveis. Destes, 22 eram pedestres.
Participaram da reunião pela Prefeitura da cidade norte-americana os técnicos: Ann Marie Doherty, chefe da Pesquisa, Implementação e Segurança da Divisão de Trânsito e Planejamento, Sean Quinn, co-diretor de Projetos para Pedestre, Joshua Benson, diretor de Programas de Transportes Não-motorizados, Jesse Mintz-Roth, gerente de Projetos de Segurança e Rob Viola, gerente de Projetos de Trânsito e Planejamento.
O encontro foi intermediado por Dário Vasconcellos Campos, oficial consular do Consulado do Brasil em Nova York (que também participou da reunião) e teve como principal objetivo entender na prática todo programa e difundir seu conceito no Brasil junto aos responsáveis pelos órgãos que compõe o atual SNT (Sistema Nacional de Trânsito).
Para Ramalho, o sucesso do projeto está na união entre o Estado e sociedade. “As propostas de mudanças são amplamente discutidas com a população antes de sua implantação. A partir daí, a adesão é inerente, não há contestação. Além das discussões e da divulgação que precede às mudanças, muitas das vezes, as novas propostas surgiram das conversas com a população. É como se fosse uma audiência pública”, explica o presidente do Observatório.
O programa prevê essas reuniões para ouvir os usuários de vários modais, além de motoristas, pedestres, ciclistas para que, todos em conjunto, discutam as melhorias visando a segurança de todos em seus deslocamentos. “Nesse modelo, nasce a implantação da cultura da segurança viária, onde todos se preocupam com todos”, conclui Ramalho.
Conheça o Visão Zero:
O conceito de “Visão Zero” é antes de mais nada uma nova abordagem ética do trânsito motorizado. Foi aprovado pelo parlamento sueco em 1997 e pregava que:
“Nunca pode ser eticamente aceitável que alguém morra ou fique gravemente ferido enquanto se desloca pelo sistema rodoviário de transporte.” Dentro dessa ótica, o zero não é um número a ser alcançado em uma data específica, mas uma visão da segurança do sistema que ajuda a construir estratégias e estabelecer metas.
Ao contrário da visão em voga até então, a Visão Zero estabelece que a responsabilidade é partilhada entre quem desenha as vias e quem as utiliza. E sempre que houver fatalidades, algo tem de ser feito para que o fato não se repita. “A vida nunca pode ser trocada por outro benefício dentro da sociedade”.
Dentro dessa lógica, não basta estabelecer a letra em lei para como o motorista deve conduzir, mas é preciso fazer com que o desenho da via facilite uma conduta segura pelos usuários. Curvas de alta velocidade e longas retas dentro das cidades, expondo os mais frágeis ao risco são os exemplos mais claros de como o desenho do viário contribui para a insegurança do sistema.
Sempre a cada fim de semana prolongado a mídia reporta os números, dezenas de milhares de vítimas em nossas estradas, acompanhados da variação em relação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo com o prejuízo ao país na casa dos bilhões, ainda falta uma abordagem sistêmica que facilite o comportamento correto da maioria dos motoristas e expurgue os infratores.
A Visão Zero dos suecos por ser um modelo ético, pode ser aplicado em qualquer país ou cidade. Basta que haja a vontade política de privilegiar a vida e a saúde das pessoas acima de outras variáveis. Fazendo com que o trânsito cumpra seu propósito, sem propiciar que as ruas sejam tratadas como pistas de autorama.
Conheça mais sobre a Visão Zero em Nova York clicando aqui.
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