Desmistificar a ideia que temos que só a alta – a altíssima, por sinal - velocidade mata no trânsito foi um dos pontos de destaque da palestra ministrada por César Urnhani, piloto de testes do Programa Auto Esporte da Rede Globo e colunista da Rádio CBN, durante a abertura oficial do Maio Amarelo em Campinas, nesta terça, dia 3 de maio, no Salão Vermelho da Prefeitura. Urnhani explicou que temos uma visão totalmente equivocada em relação ao excesso de velocidade que resulta em inúmeras mortes nas vias do país.
A palestra foi uma promoção da Rádio CBN, com apoio da EMDEC e OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, para marcar o início da mobilização na cidade. Cerca de 100 pessoas acompanharam o evento.
Urnhani sensibilizou o público ao apresentar um vídeo de um acidente causado por um condutor embriagado, em um mustang, a cerca de 140km/h, que resultou na morte de um farmacêutico de 70 anos. O motorista e seus amigos tinham bebido cerca de 56 chopes e três cervejas, saíram ilesos, e mataram o idoso a um quilômetro do bar. Como em muitos casos em todo o país, o motorista está foragido, lembrou.
O vídeo, ressaltou o piloto, serve para mostrar a irresponsabilidade e impunidade desse motorista que se transformou em um assassino, mas essa situação não pode ser considerada a que mais mata e vitima 43 mil pessoas no país. “Ela é uma gota d’água num oceano de violência, pois quem mata no trânsito são aqueles que dirigem a 40km/h, aqueles que conduzem a 70km/h numa via regulamentada a 60km/h, quem usa celular e se distrai e não vê pedestres ou crianças à frente, são mães que transportam seus filhos sem cinto ou fora da cadeirinha”, exemplificou.
De acordo com Urnhani, o Brasil mata um avião de pessoas/dia no trânsito e isso não choca. Ele lembrou que o acidente de trânsito consegue ser ainda mais cruel e trágico que um acidente aéreo, pois há sempre os sequelados, e num desastre aéreo isso não acontece. “A cada um morto no trânsito, nós mandamos mais 20 pessoas para os hospitais”, afirmou.
Urnhani explicou que 5km/h no trânsito fazem toda a diferença e ilustrou com outro vídeo sua explanação, mostrando os impactos de um acidente a 60km/h e a 65km/h. Ele esclareceu que a desaceleração mesmo com diferença pequena resulta em quadros muito graves. “É preciso lembrar que a desaceleração em um acidente é exponencial e não proporcional e as consequências também. O único meio de mudar isso está no cidadão, na sua postura, no respeito às regras”, defendeu.
O piloto citou ainda que costumamos sempre lembrar de países como a Alemanha e o Japão que apresentam segurança invejável no trânsito e apontou a diferença para isso – não são os carros e as vias, mas, sim, as pessoas, que adotam postura mais responsáveis, dentro de padrões de respeito às regras.
“Quando falta o freio moral, aí temos que frear os problemas com um freio externo, o exemplo claro disso está na fiscalização, por exemplo, com os radares; e depois todo mundo reclama da indústria da multa, que só é pujante porque ela cresce com as nossas falhas, nós somos o seu combustível”, defendeu.
Passar do discurso à prática
Durante a palestra, Urnhani também conclamou os presentes a passar do discurso à prática para mudar a violência no trânsito. “Fico incomodado com toda essa gente que reclama e não faz nada para mudar o trânsito. A diferença tem que estar em cada um de nós”.
Ele argumentou que já fez palestras para crianças e metade disse que anda sem o cinto no banco de trás, uma mostra clara que quem deve promover essa mudança são os pais, que acabam dando mal exemplo na frente das escolas, usando celular, parando em fila dupla, e transportando seus filhos sem segurança. E questionou: depois cobram que a escola não educa, mas o que eles fazem na frente de seus filhos, justo nas escolas que deveriam ser templos do respeito às regras?
Contagiar com o bem e a gentileza
O palestrante também lembrou que o trânsito nós dá a oportunidade de exercitarmos o autocontrole, de fazer o bem, de agir com gentileza, e fazer dessas atitudes algo contagiante.
“O trânsito não é um inferno como tentam pregar, é preciso se desarmar para sair às vias. Faço um convite para que todos dirijam com gentileza, convivam em harmonia no trânsito, que militem para salvar vidas. Tem muita gente que milita numa causa porque vivenciou o problema; outros porque perderem entes queridos; eu conclamo a todos que militem sem motivo. O problema pessoal não deve ser a motivação.”
O palestrante defendeu também que é preciso pensar que existem coisas mais importantes que ganhar dois minutos no trânsito. “É preciso mobilizar pelas 43 mil pessoas que matamos nas vias, porque ninguém merece virar só uma estatística.”
Direção preventiva X defensiva
O caminho para esse novo cenário é bem simples, defende Urnhani. “Temos que dirigir de forma preventiva e não defensiva. Ele esclarece que quando nos antecipamos, dirigimos de forma preventiva e, neste caso, 95% dos acidentes são evitáveis. Já na direção defensiva, sempre estaremos diante de situações que exigirão respostas num momento extremo – ou seja, estaremos em situações de emergência e o que prevalecerá aí, será o impulso; nossas reações serão por reflexo, ampliando os riscos.
O palestrante ainda abordou a questão da fatalidade e da tragédia no trânsito, exemplificando que o que contorna a fatalidade é a questão de você em um acidente ter um histórico de prudência; já na tragédia não, ela sempre será anunciada, sobretudo pelo comportamento de risco do envolvido.
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