O OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária realizou hoje (30), às 10h, o webinar “Taxa de Mortes por Bilhão de Quilômetros Percorridos”, para apresentar e discutir o conteúdo inédito do relatório técnico elaborado em cooperação com a UFPR (Universidade Federal do Paraná).
A transmissão foi mediada pelo head de Mobilidade Segura do OBSERVATÓRIO, Pedro Borges, e contou com a participação do prof. do Departamento de Transportes da UFPR e membro do Conselho Deliberativo do OBSERVATÓRIO, Jorge Tiago Bastos; do Dr. Antônio Clovis Pinto Coca Ferraz (Coca Ferraz), prof. do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola de Engenharia de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo) e fundador do Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito da USP; e da graduanda em engenharia civil e pesquisadora pela UFPR, membra do grupo de pesquisa do OBSERVATÓRIO, Louise Fuhrmann.
O objetivo do evento foi o de apresentar a estimativa da taxa de mortes por quilômetro percorrido pela frota de veículos rodoviários no Brasil e em cada unidade da federação durante a 1ª Década Mundial de Ação pela Segurança Viária (2011-2020), assim, trazendo um diagnóstico atualizado e mais preciso acerca da evolução do desempenho da segurança viária no país.
Além disso, foi apresentada a taxa de mortes por quilômetros percorridos, permitindo a comparação do Brasil com outros países ao redor do mundo que também possuam essa mesma estimativa.
Na oportunidade, pesquisadora Louise Fuhrmann destacou a metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa. Com base na base de veículos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores), em seguida, cruzou os dados com as mortes em sinistros de trânsito, do Datasus (departamento de informática do Sistema Único de Saúde) e para complementar, com a parte mais complexa, dados referentes às vendas de combustível, de diversas fontes, como o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada); a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil); a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres); o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia); o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística); e a EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Ainda em sua fala, Louise também explicou porque foram utilizados dados referentes à venda de combustível para desenvolver a pesquisa. “Porque em outros países que utilizam essa taxa, órgãos oficiais já vêm com uma quilometragem percorrida anualmente, só que aqui no Brasil a gente não tem isso disponível. Então uma forma de a gente conseguir calcular e estimar essa quilometragem, é por meio da venda de combustíveis e aí, por meio de uma das fontes, que foi o Inmetro, a gente tem a taxa de consumo de combustível e assim, por exemplo, litro por quilômetro, a gente consegue calcular então essa estimativa da quilometragem percorrida por veículo e por estado anualmente. E juntando essas três fontes, assim que a gente consegue calcular a taxa de mortes por bilhão de quilômetros percorrido”, explicou a pesquisadora.
O prof. Tiago Bastos complementou a explicação sobre dados com base na venda de combustíveis. “As vendas de combustíveis são a nossa única fonte de informação para poder fazer essa estimativa no Brasil. Em muitos países, e esse é um assunto que o Observatório já levantou e já discutiu muitas vezes, que tem, por exemplo, uma inspeção veicular periódica, padronizada enfim. Isso é consultado, a quilometragem rodada dos veículos é uma das primeiras informações que você coleta, depois da placa, enfim. Então fica mais fácil de agregar essa informação e obter por exemplo, a quilometragem percorrida.”
Sobre os dados revelados pela pesquisa, Bastos ressalta que apesar de uma constatar uma queda entre o ano inicial da pesquisa, 2011, em comparação com 2020, houve um aumento na taxa de mortes nos últimos anos da década de referência, ou seja, entre 2019 e 2020.
“Nós temos uma evolução dessa taxa de mortes, de 51 mortes por bilhão de quilômetros percorridos [em 2011], para 33 mortes por bilhão de quilômetros percorridos [em 2020] como vocês podem ver ao longo da década. A gente foi tendo sucessivas reduções dessa taxa. Em determinados anos, devido ao próprio aumento no número de mortes, a gente teve alguns aumentos isolados, mas é importante destacar como a gente pode ver mais claramente no gráfico seguinte, teve um pequeno aumento da taxa de mortes por bilhão de quilômetros percorridos de 2019 (29,75), para 2020 (32,75). Então este é o nosso valor, 32,75 mortes por bilhão de quilômetros percorridos”, detalhou o prof. Tiago Bastos.
O webinar ainda apresentou os resultados e análises da taxa de mortes por bilhão de quilômetros detalhadamente para cada unidade da federação. Com o estado de Alagoas possuí um dos maiores índices, com 73,20 mortes por bilhão de km percorridos; além do estado do Piauí, com a taxa de 72,03 por bilhão de km. Em contraponto, o Distrito Federal possui a menor taxa de mortes por bilhão de km da federação, são 20,02 mortes por bilhão de km, e o estado de São Paulo, em segundo lugar, com uma taxa de 20,33 mortes por bilhão de km percorridos.
Questionado sobre o porquê de o índice de mortes por km ser tão diferente no Brasil e nos países europeus, e se existe uma correlação entre o índice de mortes por bilhão de km e PIB per capita, e qual seria essa razão, o prof. Coca Ferraz destacou que a morte por sinistro de trânsito está ligada ao nível de desenvolvimento econômico-social.
“É um problema de desenvolvimento econômico-social que você pode expressar pelo PIB per capita, mas que pode também medir pelo IDH. Eu nunca vi, mas é interessante fazer essa correlação com o IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, então é isso basicamente. E aliás, vou dizer que um grande desafio nosso, para o Brasil e os países em desenvolvimento, é exatamente tentar reduzir acidentes com o desenvolvimento social muito menor. Você não tem uma cultura de segurança, quando eu falo de cultura de segurança não é a educação do cidadão a cultura do cidadão. É uma cultura geral, inclusive uma cultura técnica. Os municípios investirem em segurança, a fiscalização cuidando de fiscalizar para melhorar a segurança”, explicou o prof. Coca Ferraz.
Ainda respondendo perguntas dos internautas, o prof. Coca Ferraz destacou, com base no cenário brasileiros, quais as três medidas urgentes que deveriam ser tomadas para a redução mais rápida nos índices de mortalidade no país.
“Na minha opinião, a primeira ação que deveria ter sido concretizada, que de certa forma o governo federal tentou colocar em prática, criar uma agência nacional de segurança no trânsito com o poder no mesmo nível dos Ministérios para poder atuar efetivamente, de maneira forte, no sentido de redução. Todos os países desenvolvidos que o Tiago citou os índices, todos eles têm um órgão forte que cuida da segurança no trânsito. A Argentina, por exemplo, já tem a sua Agencia Nacional de Seguridad Vial, e nós não temos aqui uma agência nacional de segurança no trânsito, então a gente defende isso. O governo federal tentou criar isso com a Secretaria, mas não é a mesma coisa. Uma agência com o mesmo nível de poder de responsabilidade de ministério poderia inclusive, conseguir muitos recursos internacionais para trazer para o nosso país, a primeira ação, acho que é essa. A segunda ação é investir em educação para criar no futuro uma cultura de segurança no trânsito e terceiro, são os três E’s: educação, esforço legal e engenharia. E engenharia é muito importante a parte de sinalização”, finalizou o prof. Coca Ferraz.
Assista ao webinar completo:
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