Estatísticas de mortes no trânsito brasileiro ainda estão longe da confiabilidade necessária para uma tentativa séria de combate, conforme preconiza a campanha da ONU sobre década de segurança viária (2011-2020). Sem saber ao certo o tamanho do problema fica mais difícil planejar ações educativas, de formação de condutores e até mesmo de fiscalização.
Na realidade há três referências. O Denatran informa algo em torno de 35.000 óbitos anualmente e o Ministério da Saúde cerca de 43.000 porque inclui os mortos até 30 dias depois das ocorrências registradas. O número mais confiável poderia ser da Seguradora Líder, administradora central do DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres), que pagou 54.767 indenizações por mortes no ano passado. Este último número inclui vítimas de acidentes fatais dos últimos três exercícios do calendário civil, conforme prevê a lei, o que não deixa de significar uma imprecisão estatística.
Por solicitação de Alta Roda, a Líder esmiuçou suas informações. Indenizações a pedestres foram 18.149, representando 33% do total, proporção elevada em relação aos países desenvolvidos. No total, frente a estes, o trânsito no Brasil é até oito vezes mais perigoso.
No entanto, números catastróficos envolvem motocicletas. Elas representam em torno de 25% da frota total de veículos leves e pesados, porém respondem por 41% das mortes: 16.240, do condutor; 2.667, do passageiro e 3.434, de pedestres. Morre-se duas vezes mais ao guidão de uma moto do que ao volante de um veículo comum, mesmo que estes representem um volume cerca de três vezes maior (40 milhões contra 13 milhões, segundo estudo do Sindipeças).
Portanto, o foco para tentar reduzir a letalidade no trânsito deveria começar pelos veículos de duas rodas. Afinal, exigem mais habilidade e respeito por suas limitações. Ausência quase total de segurança passiva (diminui consequência dos acidentes), além de maior exposição a buracos, más condições das vias e menor visibilidade frente aos demais veículos estão entre as causas. Capacete ainda é o principal acessório de segurança, mas coletes infláveis importados já são oferecidos no mercado brasileiro por preço médio superior a R$ 2.000 (jaquetas infláveis partem de R$ 1.000).
Um dos problemas é a deficiência de formação dos motociclistas aliada aos vícios de pilotagem. Entre estes está a forma incorreta de frear com o mau hábito de utilizar apenas o freio traseiro. Para ajudar na diminuição de acidentes há o sistema automático de combinação dos freios dianteiro e traseiro para motonetas, além de diferentes aplicações de ABS (freios antibloqueio) disponíveis em motocicletas caras.
A Honda lançou, no começo do mês, a primeira moto comum (street), de baixa cilindrada, com aplicação simultânea dos freios (Combi Brake), mesmo que o piloto acione somente o freio traseiro. É de série nas CG 150 Titan 2015 cujos preços vão de R$ 7.680 a R$ 8.180. Em breve deve se estender a todas as CG. O Brasil é o primeiro mercado a dispor desse equipamento pela dificuldade de mudanças de hábitos errados. Testes indicam que a distância de frenagem pode diminuir até 20% em relação a um moto sem o equipamento e conduzida de forma incorreta.
Fernando Calmon
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