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SINISTROS DE TRÂNSITO ENVOLVENDO MOTOCICLETAS

Escrito por Portal ONSV

27 JUL 2023 - 09H17 (Atualizada em 27 JUL 2023 - 15H37)

1) INTRODUÇÃO

O Dia do Motociclista tem sua origem no Brasil em homenagem póstuma a Marcus Bernardi, motociclista e mecânico da Honda, que morreu em 27 de julho de 1974. Este dia também é uma oportunidade para conscientizar e alertar sobre a importância da segurança no trânsito.

Os sinistros envolvendo motocicletas são um problema de segurança viária que tem preocupado autoridades de trânsito, especialistas em transporte e sociedade em geral. As motocicletas são um meio de transporte popular em muitas partes do mundo. O seu uso tornou-se significativo no final do século passado, por ser um veículo de baixo custo comercial, de fácil mobilidade e praticidade, sendo útil em cidades com grande tráfego terrestre (Santos et al., 2016; Fidelis et al.,2022). No entanto, a crescente popularidade das motocicletas também trouxe consigo um aumento nas estatísticas de sinistros, lesões e fatalidades relacionadas a esse meio de locomoção.

As motocicletas apresentam diferenças significativas em relação aos veículos automotores convencionais, como carros e ônibus, tornando os motociclistas mais vulneráveis nas vias de trânsito. Enquanto os carros oferecem uma estrutura mais sólida e segura ao redor dos ocupantes, as motocicletas expõem diretamente o condutor e o passageiro aos riscos do ambiente viário. Essa exposição direta coloca os motociclistas em maior risco de lesões graves em caso de colisões ou quedas. Como resultado, em caso de acidente de trânsito, os ocupantes de motocicletas enfrentam uma probabilidade 26 vezes maior de falecer do que os condutores de automóveis.

As mortes relacionadas a motociclistas representam um número alarmante, com mais de 380.000 fatalidades anuais no mundo. No Brasil, somente em 2022 pelo menos 129.644 motociclistas necessitaram de atendimento médico decorrente desses incidentes envolvendo motos (Datasus, 2023). No Brasil, os homens entre 20 e 29 anos aparecem como os principais agentes nesses índices. A região Sudeste aparece como núcleo de maior concentração de sinistros (Fidelis et al., 2022). Outros estudos apontam que o sexo masculino é maioria entre as vítimas, correspondendo entre 70% a 80% dos casos (Santos et al., 2016; Aguiar et al.,2019; Monteiro et al.,2020; Melo e Mendonça,2021). Junior e Golias (2021) destacam que as fraturas ocorreram com maior frequência nos membros inferiores (43,5%) e membros superiores (40,0%).

Esses dados reforçam a necessidade de se adotar medidas para aumentar a segurança dos motociclistas nas vias e promover a conscientização sobre a importância de práticas seguras no trânsito (Ramos et al., 2022).

2) FATORES RELACIONADOS

Os sinistros de motocicletas podem ser atribuídos a uma série de fatores, muitos dos quais estão relacionados ao comportamento do condutor e às condições das vias de trânsito.

A condução em velocidade acima do limite permitido é uma das principais causas. A falta de cumprimento das normas, defeitos na pista, distração do motorista e uso inadequado de equipamentos de proteção, são outros fatores que ajudam a agravar mais o número de ocorrências.

O estudo realizado por Almeida et al. (2016) com os mototaxistas, apontou que os mesmos possuem alta carga horária de trabalho (12 horas diárias em média).

Fatores relacionados à condução das motos após ingestão de álcool juntamente com a ausência de capacetes, foram descritos por Araújo et al. (2021). Os autores mencionam que tais sinistros ocorreram nos finais de semana, onde se intensifica a ingestão de álcool.

As consequências são significativas tanto para os motociclistas quanto para a sociedade como um todo. Esses impactos abrangem desde as lesões e fatalidades individuais até os custos financeiros e emocionais.

3) CONSEQUÊNCIAS PARA A SOCIEDADE

Os sinistros de motocicletas acarretam custos financeiros consideráveis para a sociedade. Isso inclui despesas médicas de emergência, tratamentos hospitalares, cirurgias, fisioterapia e acompanhamento médico de longo prazo. Além disso, podem sobrecarregar os sistemas de saúde, especialmente em regiões com altas taxas de sinistros. O atendimento de emergência a motociclistas feridos pode exigir recursos médicos, equipes cirúrgicas e leitos hospitalares, afetando a capacidade de resposta do sistema de saúde a outras emergências.

No estudo de Araújo e Whitaker (2016) foi analisado o quadro clínico de 91 motociclistas. Os dados revelaram um agravamento significativo dos traumas, complicações infecciosas, úlceras por pressão, rabdomiólise e síndrome da angústia respiratória aguda, impactando o tempo de internação. Neste estudo, observou-se que úlceras por pressão e infecções foram fatores determinantes para o prolongamento do tempo de internação, enquanto o óbito foi associado à redução do período de internação.

Aqueles que sobrevivem a sinistros graves podem enfrentar traumas emocionais, ansiedade e depressão por meses ou anos após o evento, impactando fortemente a qualidade de vida do motociclista.

Além dos impactos individuais e financeiros, sinistros de motocicletas também afetam a sociedade em geral, podendo afetar na confiança dos cidadãos no sistema de transporte e na segurança viária, gerando preocupações sobre a eficácia das políticas e estratégias de prevenção.

Compreender o impacto desses eventos trágicos é fundamental para sensibilizar a opinião pública e as autoridades sobre a importância de implementar medidas eficazes para prevenir tais ocorrências.

4) MEDIDAS PREVENTIVAS E CONCLUSÕES

Para reduzir a incidência de sinistros de motocicletas e promover a segurança dos motociclistas nas estradas, é fundamental implementar medidas preventivas e estratégias de segurança. Tais medidas podem abranger diversos aspectos, desde a conscientização e educação até a melhoria da infraestrutura e o cumprimento rigoroso das leis de trânsito.

Realizar campanhas de conscientização é uma das estratégias mais eficazes para educar os motociclistas sobre os riscos e perigos do trânsito, bem como para informar os outros motoristas sobre a importância de compartilhar a via com segurança.

Oferecer programas de treinamento e formação para motociclistas iniciantes é essencial para ensiná-los sobre as habilidades de condução segura.

Além disso, a melhoria da infraestrutura viária pode contribuir para a segurança dos motociclistas. Isso inclui a manutenção adequada das vias, sinalização clara e adequada, redução de obstáculos nas estradas e a criação de vias exclusivas para motocicletas sempre que possível.

E por fim, estabelecer leis de trânsito mais rigorosas relacionadas ao uso de equipamentos de segurança, limite de velocidade e comportamento no trânsito pode incentivar os motociclistas e outros motoristas a seguirem práticas mais seguras. A fiscalização efetiva dessas leis também é crucial para garantir o cumprimento das normas.

Referências

Aguiar, D. G., Sousa, O. C., Matos, P. V. C., Santos, F. M., Lopes, E. P., Rodrigues, R. L., & Rêgo, M. A. V. (2019). Internação hospitalar de motociclistas acidentados no estado da Bahia/Hospital hospitalization of bikers in the state of Bahia. Brazilian Journal of Health Review, 2(2), 1018-1038.

Almeida, G. C. M. D., Medeiros, F. D. C. D. D., Pinto, L. O., Moura, J. M. B. D. O., & Lima, K. C. (2016). Prevalência e fatores associados a acidentes de trânsito com mototaxistas. Revista Brasileira de Enfermagem, 69, 382-388.

Araújo, C. D., Almeida, C. P., Santana, L. R. P., dos Santos, A. D., Lima, S. V. M. A., de Araújo, K. C. G. M., ... & Vaez, A. C. (2021). Fatores preditores e qualidade de vida das vítimas de trauma por acidentes de trânsito. Research, Society and Development, 10(5), e0410514576-e0410514576.

Araujo, G. L. D., & Whitaker, I. Y. (2016). Hospital morbidity of injured motorcyclists: factors associated with length of stay. Acta Paulista de Enfermagem, 29, 178-184.

BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS (2023). Departamento de Informática do SUS. Brasília, Ministério da Saúde.

Fidelis, F. A. P., de Araújo, K. C. G. M., & Martins Filho, P. R. S. (2022). Internação hospitalar por acidente de motocicleta nas regiões do Brasil. Research, Society and Development, 11(6), e50011629537-e50011629537.

Junior, R. D. S. B., & Golias, A. R. C. (2021). Fraturas provocadas por acidentes de motocicleta. Revista Uningá, 58, eUJ3756-eUJ3756.

Melo, W. A. D., & Mendonça, R. R. (2021). Caraterização e distribuição espacial dos acidentes de trânsito não fatais. Cadernos Saúde Coletiva, 29, 1-12.

Monteiro, C. D. S. G., Almeida, A. C. D., Bonfim, C. V. D., & Furtado, B. M. A. S. M. (2020). Características de acidentes e padrões de lesões em motociclistas hospitalizados: estudo retrospectivo de emergência. Acta Paulista de Enfermagem, 33.

Ramos, T. S., da Veiga Pessôa, K. H. J., de Oliveira Nascimento, A. P. M., Silva, C. C. G., Laureano Filho, J. R., Antunes, A. A., & Petraki, G. G. P. (2022). Avaliação dos acidentes com motocicletas no Brasil. Research, Society and Development, 11(2), e20611225614-e20611225614.

Santos, M. E. S. M., Silva, É. K. P. D., Rocha, W. B. S. S., & Vasconcelos, J. M. D. (2016). Perfil epidemiológico das vítimas de traumas faciais causados por acidentes motociclísticos. Revista de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial, 16(1), 29-38.




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