Bom! Como podemos começar? Vamos começar falando de como o trânsito se parece com uma sociedade, onde muitas das vezes é preciso contar com a compreensão das pessoas para um bom convívio. É importante dizer que o trânsito é um espaço democrático, ao mesmo tempo um espaço compulsório, onde todos têm direitos e deveres.
É inegável que vivemos um difícil momento na história da humanidade, em que a principal preocupação está em torno da pandemia do Coronavírus e da iminência de uma nova guerra mundial; no entanto, muito defendemos que o remédio para a pandemia seria a vacina, e para a guerra os remédios seriam amor ao próximo e diálogo pacífico. Porém, faço dois questionamentos para nossa reflexão: vivemos no trânsito também uma Pandemia – uma Pandemia silenciosa? Os números da violência no trânsito não seriam números de massacre de guerra?
Com números acima de 1 milhão de mortes ao ano em decorrência de sinistros de trânsito no mundo, indiscutivelmente, vivemos uma pandemia silenciosa já há vários anos. E qual seria o remédio para essa pandemia? Eu digo a vocês que o remédio está nos pilares da segurança viária: engenharia de tráfego, esforço legal (fiscalização) e na EDUCAÇÃO. A educação transforma, através dela é que mudaremos esse quadro, pois precisamos urgentemente de mudança comportamental, onde possamos conhecer sim nossos direitos, mas não esquecermos nossos deveres. Falar de trânsito é falar de convívio social, portanto para falar de trânsito, precisamos refletir sobre temas interdisciplinares relacionados à matéria: Mobilidade Urbana, Respeito, Responsabilidade, Planejamento Urbano, Saúde Pública, Engenharia, Gestão Pública, Inclusão Social, Acessibilidade, Poluição Ambiental e Sonora, Meio Ambiente, Gestão Ambiental Urbana, Psicologia e Comportamento Social, Estatística, Ética e Cidadania, além de muitas outras áreas correlatas.
O tema trânsito é muito complexo, devido à variada normatização legislativa e à pluralidade de atores que utilizam esse espaço; ao mesmo tempo, o tema é instigante e começou a fazer parte da minha trajetória acadêmica e profissional em 2014, quando fui aprovado no concurso público para Analista de Trânsito do Detran/Maranhão, mesmo ano que retornei à Universidade Federal do Maranhão para cursar Direito, mesma universidade onde havia formado dois anos antes em Artes Visuais. Nesta nova graduação, comecei a relacionar os textos da área do direito com textos da área de trânsito, me apaixonei pela educação para o trânsito e pela legislação específica. Anos mais tarde, iniciei trabalhos fotográficos de observação e o cenário favorito sempre foi o trânsito, em cada fotografia um novo olhar... cada fotografia cadenciava a análise sobre a relação do homem com a utilização dos espaços urbanos e ao mesmo tempo inspirava uma reflexão teórica sobre a complexidade da mobilidade urbana.
Atualmente percebo que os problemas relacionados ao trânsito e mobilidade vem sendo bastante discutidos, inclusive em campanhas educativas e publicitárias. Antes, o que se restringia à Semana Nacional de Trânsito, realizada anualmente em setembro, alargou-se e ações são vistas durante todo o ano, afinal os números da violência no trânsito a cada dia são ainda mais assustadores. Várias são as causas dos problemas relacionados ao trânsito, cito negligência, imprudência, imperícia, intolerância, desumanização, desrespeito, falta de valores, falta de consciência, fiscalização ineficaz, além desses, vários outros, inclusive nas cidades os problemas estão ligados diretamente aos processos de urbanização desordenado e omissão da gestão pública.
Neste momento, gostaria de chamar atenção para a importância do OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, entidade sem fins lucrativos com mais de 10 anos e que desenvolve atividades, pesquisas e conteúdo informativo para a redução dos índices de acidentes no Brasil e no mundo. Visando capacitar mais pessoas para atuar regionalmente na área de segurança viária, o OBSERVATÓRIO criou o Programa Observadores Certificados, para estimular o aprimoramento de profissionais e o intercâmbio de informações, facilitando o acesso ao planejamento das ações, recursos e ferramentas para as melhores práticas de segurança viária e veicular, tendo como objetivo contribuir para um trânsito mais seguro para a sociedade, estimulando o aprimoramento técnico destes profissionais.
No Maranhão, atualmente somos 09 Observadores Certificados, digo que somos ativistas militantes pela segurança viária; e, juntos ou isoladamente, desenvolvemos projetos de educação para o trânsito durante todo o ano. Destaco que os projetos de educação para o trânsito devem alcançar as mídias sociais, como o rádio, TV, redes sociais, etc. O tema deve fazer parte do dia a dia das pessoas. A educação para o trânsito deve buscar a mudança de comportamento, deve ser crítica e reflexiva, logo deve ser perene, constante e intermitente. Portanto, destaco a educação para o trânsito como pilar de prioridade dos órgãos ou entidades de trânsito na busca de um trânsito seguro e mais humano, pois a educação é libertadora e transformadora dos cidadãos e da realidade, como sempre defendeu nosso Mestre Paulo Freire.
Nos últimos anos desenvolvemos diversas temáticas para chamar atenção da sociedade, numa busca de conscientizar e sensibilizar toda a população, tanto condutores quanto os demais usuários das vias. Temas como “Minha escolha faz a diferença”; “No trânsito o sentido é a vida”; “Perceba o risco, proteja a vida”; “Respeito e Responsabilidade – Pratique no Trânsito”, e neste ano estamos com a proposta “Juntos Salvamos Vidas”, no intuito de reunirmos a sociedade, as esferas governamentais (estaduais, municipais e federal), entes públicos e privados em torno de uma meta: um trânsito mais seguro.
Diante do exposto, o Trânsito é uma causa URGENTE! Bora Salvar Vidas?
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Anderson Boás - Analista de Trânsito e Observador Certificado;
Paço Lumiar/Maranhão.
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