Por Márcia Pontes
Talvez muitos respondam a esta pergunta em três palavras: excedeu, bateu, morreu. Só que o pensamento não é tão linear assim.
Acidentes de trânsito nunca têm uma causa só, isolada de seu contexto, e resultam sempre de uma somatória de fatores que precisam ser consideradas para além do momento do acidente e da tentativa de explicação para o que parece tão óbvio.
Quando condutores experientes dirigem veículos potentes, de última geração das tecnologias embarcadas, com computadores de bordo que corrigem falhas primárias e avançadas e ainda assim conseguem bater violentamente, matar e morrer, isto significa que algo está errado. Os amigos vão dizer que foi falha mecânica, com certeza. Quem aponta o dedo vai dizer que o causador foi o motorista que dirigiu tão agressivamente ao ponto de o estabilizador de tração e de direção do veículo não dar conta.
A mãe pede para o garoto recém-habilitado não beber, não se exceder na balada, não dirigir alcoolizado e nem pegar carona com quem bebeu, mas ele faz e os resultados chegam na madrugada, acordando a todos com um telefonema que anuncia a desgraça. Ou a pedra cantada.
O homem era um bom cidadão, dirigia há anos, tinha cabelo branco e isto deveria ser cartão de visita de bom motorista que dirige com o mais alto respeito pela vida... mas ele bebia, tadinho. Era o único defeito. E justamente, aquele que lhe custou a vida e a de inocentes que não tinham nada a ver com a história.
Para qualquer ser humano, por mais frio que ele pareça, a morte é a pior das sentenças. A certeza de que nunca mais veremos, falaremos, abraçaremos alguém que amamos é a pior das dores que um ser humano pode sentir. Todo mundo sabe disso e comenta sobre isso com a propriedade de uma dor que nunca parou de doer mesmo depois de anos de uma perda. Quem perdeu um filho sabe, quem perdeu um irmão, um amigo, a esposa, o marido, alguém que amava, sabe. Mas, em algum momento no trânsito parece que esquecem, que não dão bola, que é irrelevante. Parece que as pessoas não acreditam que podem morrer ou preferem continuar negando a pior das consequências de seus atos e fazer de conta que foi “de repente”, “do nada”, sem esperar. Afinal, essa é a faceta mais conhecida da morte.
De cara com a realidade
É madrugada, ruas vazias, o sujeito vem dirigindo, acelera, ultrapassa o único veículo que tem na via, se perde, bate e morre. De quem foi a culpa? Exclusiva do motorista? Do único veículo que estava à frente dele? Da via? Do município que não oferece vias seguras? Do agente de trânsito que não estava no local para flagrar e “multar”? Dos gestores do trânsito que não levam educação para o trânsito e estímulos para aprendizagens de comportamentos seguros à população?
Certamente, muitos terão a resposta que acreditam ser a certa (ou a única) na ponta da língua, enquanto a única certeza que se tem é que uma vida que poderia ter sido poupada não foi.
Para quem, como eu, vive a realidade da falta de segurança no trânsito e suas consequências de diversas formas (estudos, pesquisas, na interação com as vítimas, familiares, médicos, enfermeiros e até com representantes das diversas pontas do Sistema Nacional de Trânsito), tudo fica muito claro.
Fica claro demais quando você está em um cantinho da sala de emergência de um hospital no momento em que chega uma vítima em estado grave e você presta atenção no diálogo entre médico e paciente. Você bebeu? Bebi. Você estava usando cinto de segurança? Não. Você usou drogas? Usei. Você sente suas pernas? Não.
Fica mais claro ainda quando este médico tem de deixar este paciente para entrar em cirurgia de emergência porque chegou um politraumatizado do trânsito. Ou quando você vê um garotão de seus 20 e poucos anos (que poderia ser seu filho querido) falando coisa com coisa, confuso, com paralisia facial porque o trauma foi na cabeça e afetou profundamente as estruturas internas do crânio.
E aí você vai acompanhando esses jovens, adultos, idosos, crianças e até bebês que por conta de segundos de bobeira no trânsito tiveram suas vidas transformadas para sempre e até ceifadas.
Aí você quer voltar no tempo, no momento do acidente. Você quer que tenha um filme gravado disso para poder voltar o botão e apertar o play no exato momento para identificar o que deu errado e o que poderia ter feito para ser evitado. Mas, não pode mais. Isso é só em filme de campanha premiada de acidente de trânsito no mundo. Mas, o pior mesmo é quando você ouve: “hora do óbito.”
De quem é a culpa?
O acidente é a infração de trânsito que deu errado. Na maior parte dos casos, é. E mesmo que não tenha sido uma infração, podem ter certeza de que algo que poderia ter sido feito para evitar não foi. Um condutor que dirigiu alcoolizado quando deveria estar dirigindo de cara limpa; uma pisada a mais no acelerador quando deveria reduzir na curva; um buraco que não deveria estar ali, em alguma das mais de 4 mil ruas da cidade; um pai cabeça fraca que levava a criança com menos de 7 anos em uma moto com um capacete que em nada protege, e por aí vai.
Só que a segurança das pessoas no trânsito, embora seja uma obrigação própria, pessoal, não depende exclusivamente do motorista. Uma via mal sinalizada, mal iluminada, mal conservada, com vegetação encobrindo as placas, com um raio de curva inadequado também implica para acidentes.
A inércia do poder público em não mobilizar todas as suas estruturas pela segurança e o fato de se enxergar o trânsito pelas janelas dos gabinetes diferente do que se vive nas ruas também implica para acidentes. Pensar que educação para o trânsito só funciona com crianças na escola é outro erro crasso que condena à indiferença e à morte os adultos que poderíamos influenciar com uma informação clara sobre como evitar comportamentos de risco. Negar políticas públicas para a segurança da população inclusive no trânsito também mata e é um crime de administração pública.
Senhores gestores, prefeitos, secretários, políticos em seus municípios. Os senhores já se deram conta disso? Os senhores administradores das cidades sabem nos dizer quanto custa para suas pastas e secretarias essa conta? Tem lugar para esta informação em seus releases bem escritos por jornalistas empolgados contratados pelas prefeituras para anunciar pretensas manchetes de capa sobre a coisa linda que é a administração pública na sua cidade? A segurança das pessoas no trânsito em seu município é um compromisso verdadeiro?
Como gestores e profissionais do trânsito vocês conseguem responder a esta pergunta com o dedo virado para si mesmos?
Márcia Pontes, graduada em Segurança no Trânsito pela Unisul Virtual (SC), é Educadora de trânsito em Santa Catarina e Observadora Certificada do ONSV (OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária)
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