A mobilidade urbana é um dos desafios contemporâneos. Atender aos anseios da sociedade no seu direito de ir e vir, garantido pela Constituição Federal, vai além da possibilidade de se deslocar livremente. É preciso buscar, ao realizar todo e qualquer deslocamento, a melhoria na qualidade da vida urbana e da segurança das atuais e futuras gerações.
Apenas nos primeiros cinco meses de 2014, mais de 1 milhão de novos veículos passaram a integrar a frota nacional, de acordo com o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam), dando continuidade ao aumento ininterrupto da frota veicular na última década no Brasil. Mais veículos na ruas e menos ruas para tantos veículos ajudam a entender, por seu lado, os congestionamentos crescentes e o maior tempo gasto nos trajetos cotidianos. Mesmo nos fins de semana, os engarrafamentos tomam conta das vias nas principais capitais do país.
A despeito dos desafios crescentes da mobilidade urbana, recente pesquisa Michelin/Casa 7 mapeou o perfil de jovens motoristas, entre 18 e 25 anos, e identificou que carro ainda é sinônimo de status e realização. O veículo próprio mantém-se como objeto de desejo e segue na lista dos marcadores mais significativos da maioridade. Para eles, a motorização ainda significa conforto, praticidade, agilidade e, sobretudo, liberdade e poder.
O estudo confirmou, porém, antigos sinais de alerta: esse jovem que possui espírito livre e vive o presente mais do que ninguém, essa geração de nativos digitais hiperconectados, corre mais riscos, envolvendo muitos outros atores com os quais compartilha sua inserção adulta no mundo do trânsito.
As estatísticas nacionais de mortos e feridos no trânsito corroboram, infelizmente, que o acesso à informação nem sempre se traduz em conhecimento e, tampouco, em atitudes de segurança. Dados do Ministério da Saúde revelam que os acidentes de trânsito superam todas as demais causas de morte entre jovens e posicionam o Brasil como o quarto país em mortes por acidentes de trânsito, ficando atrás da China, da Índia e da Rússia, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2013, mais da metade das indenizações do Seguro DPVAT foi destinada ao grupo etário de 18 a 34 anos e majoritamente para homens (76%).
A violência no trânsito tornou-se um dos nossos principais problemas de saúde pública, mas temos avançado positivamente em muitas frentes. Brasília ainda hoje é um exemplo nacional de respeito ao pedestre e, além disso, a lei seca e a fiscalização mais acentuada sobre os motoristas em relação ao beber e dirigir produziu resultados importantes na redução da mortalidade no trânsito na capital federal desde 2008. De acordo com o Detran/DF, o número de acidentes fatais caiu de 462 para 361 ocorrências (-20,9%) e o de mortes no trânsito reduziu 20,8%, caindo de 500 para 396, mesmo com o crescimento contínuo da frota veicular.
Os importantes resultados dos últimos anos se devem, ainda, ao início das operações conjuntas, em dezembro de 2011, que consistem na integração de recursos e estratégias de diversos órgãos públicos, forças policiais e do órgão gestor do trânsito na capital, em consonância com o que preconiza a OMS. Focando as intervenções em pontos com maior frequência de acidentes, essas ações fiscalizam, principalmente, a embriaguez ao volante e o excesso de velocidade, dois fatores de risco decisivos.
Não faltam provas, portanto, de que podemos transformar o grave quadro do trânsito em nossa sociedade, alcançando maior justiça, segurança e saúde na mobilidade. O tema da Semana Nacional de Trânsito de 2014 fala dessa cidade em que as pessoas e a vida vêm sempre em primeiro lugar e isso passará por uma mudança de cultura e pela maior conscientização dos jovens, que devem continuar a ser o alvo das campanhas de segurança no trânsito.
Em 2015, o Brasil sediará a II Conferência Mundial sobre Segurança Viária. Podemos fazer a diferença e devemos fazer a diferença, demonstrando que segurança no trânsito é um querer coletivo que começa na ação de cada um.
Damien Destremau, Vice-presidente da Michelin América do Sul
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