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“NO TRÂNSITO, ESCOLHO A VIDA: E VOCÊ?”

Escrito por Portal ONSV

20 JUL 2023 - 09H21

Para além da racionalidade, a campanha do “Maio Amarelo de 2023”, sob o título: “No trânsito, escolha a vida”, convida-nos a repensar o comportamento, apostando no poder do autoconhecimento e da consciência coletiva para a construção da segurança. Entende-se que, neste propósito de escolha pela vida, somos desafiados, no dia a dia, à relação com o outro. Graças a esta relação, constatamos as nossas diferenças, e nos descobrimos como seres sociais, o que nos capacita ao desenvolvimento da autonomia e empatia.

A propósito, Paulo Freire em sua obra “Pedagogia da autonomia” nos leva a refletir sobre a necessidade do ser humano despertar para a sua condição de ser. Isso posto, poder-se-á estimular nos cidadãos, o desenvolvimento de valores, hábitos e comportamentos éticos e incorporar inúmeras virtudes, tais como generosidade, paciência, tolerância com o diferente, humildade e empatia.

No intuito da transformação social, a construção da paz no trânsito requer, inicialmente, que a pessoa se disponha a tomar consciência de si mesma, entendendo verdadeiramente o seu papel no agir cidadão em cada deslocamentos diários. É pensar na mobilidade humana, na vida urbana e na sua responsabilidade social. Sendo assim, a prática do comportamento ético implica no agir em função do sentido positivo de fazer o correto no trânsito, apenas por ser correto, e não se pautando pelo medo da punição nem pelo interesse em prêmio. Por isso, as normas e leis de trânsito estabelecidas terão um significado diferenciado, na medida da sua legitimação pela segurança social e não pela imposição do Estado.

A escolha pela vida nos remete a reflexões quanto à necessidade de análise de nossas subjetividades, inerentes à condição humana. Assim, pensar um trânsito seguro exige esforço, dedicação e propósito de expansão da consciência individual e coletiva. É verdade que muitas variáveis podem interferir no processo de escolha do comportamento no trânsito, e a segurança demanda resolução e intencionalidade para ser atingida.

No processo de pacificação nas vias públicas do trânsito, vale recordar a filosofia oriental, que ressalta a necessidade do “estado de presença”, momento em que o indivíduo se reconhece em cada ação, e direciona constantemente sua intenção na forma de agir, evitando distrações e comportamentos de risco. Para Rozestraten, todo comportamento se desenvolve no ambiente, seja o físico, o social, o normativo e o corporal e psíquico. O trânsito é uma sociedade em movimento, portanto, a convivência harmoniosa no trânsito necessita de mecanismos pedagógicos que oportunizem o aprendizado fundamental, no âmbito da “ética da alteridade”, e da responsabilidade ética mencionada nos termos propostos por Emmanuel Levinas.

Na era da sustentabilidade, torna-se imperioso que a sociedade se organize com o objetivo inclusivo, respeitando os múltiplos e diferentes interesses e necessidades. Então, a construção da Paz inicia quando nós percebemos como iguais em natureza, origem, destino, direitos e deveres, e prossegue, quando nos encontramos, factual e historicamente, como diferentes em condições existenciais de ambiente étnico, aquisições culturais, nível econômico, status social e contexto político, entre outros aspectos, porém, seu processo culmina quando tentamos nos entender em situações de igualdade, na vivência da empatia. Eis porque, a cultura da paz requer novos olhares e a construção de novos paradigmas e comportamentos.

Assim, essa proposta tão ampla e significativa de escolher a vida, no trânsito, tem de começar em cada um de nós, independentemente do papel exercido como motorista, pedestre, ciclista e motociclista. Contudo, na contramão, o mundo contemporâneo enfatiza o imediatismo e a objetividade materialista, levando pessoas a ancorar seu comportamento em bases narcisistas e egóicas, em muito desprovidas de civilidade. Ou seja, vive-se um momento histórico em que a pressa e as prioridades individuais representam a base do agir cotidiano.

Nós do Observatório Nacional de Segurança Viária – ONSV convidamos todos a refletir sobre o comportamento e escolhas no transitar, pois, quando “escolhemos a vida no trânsito”, abraçamos uma causa que tem impacto na construção de uma sociedade fundada em valores de respeito e generosidade. Lembre-se, somos todos corresponsáveis para colaborar para um trânsito melhor e mais harmonioso.

Segundo dados do MS/SVS/CGIAE – Sistema de informação sobre mortalidade – SIM/2021, os sinistros de transporte, no público de 20 a 29 anos, atingiram o patamar de 7.880 mortes no ano; no grupo de 30 a 39 chegaram a 7.028 mortes e, no público de 40 a 49 anos, aconteceram 6.200 mortes. Esses dados ressaltam a urgência de novas políticas públicas, que estimulem, de forma estratégica e inovadoras mudanças no pensar do jovem e do adulto jovem, a respeito do deslocamento humano, envolvendo um despertar da consciência e da corresponsabilidade no agir cidadão. Em suma, ao buscar a mudança aqui proposta, o cidadão carece de um referencial, embasado em sua consciência cidadã, cuja máxima deveria ser compreendida na simplicidade da essência de que: “O BEM FAZ BEM”.












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