Mobilidade é a palavra do momento e preocupa a todos: fabricantes de veículos, motoristas, pedestres, governos e os mundos acadêmico e científico. Nesse contexto, ideias surgem de todos os lados, mas é preciso separar soluções verdadeiras daquelas sem eficácia ou ganho prático limitado.
Um exemplo: faixas de pedestres em "X", em São Paulo, implantadas experimentalmente pela prefeitura em alguns cruzamentos. Trata-se de mera cópia piorada do que foi feito em um bairro de Tóquio. Segundo o engenheiro Paulo Guimarães, do Observatório Nacional de Segurança Viária, a solução japonesa existe em local onde o fluxo de pedestres supera a capacidade do passeio público. Usam apenas uma faixa diagonal larga, mas em São Paulo são duas. "No cruzamento das faixas há risco de esbarrões entre os próprios pedestres", destaca Guimarães.
Quanto ao cenário por parte da indústria, a tendência é produzir, além de carros, soluções de mobilidade por todos os meios. Foi o recado de Erica Klampfl, gerente de Mobilidade Global no Futuro, da matriz da Ford, em palestra na feira de tecnologia Campus Party, em São Paulo. Megacidades com mais de 10 milhões de habitantes serão pelo menos 41 até 2030. A classe média, que aspira ter um automóvel, passará de 2 bilhões para 4 bilhões de pessoas, a maioria na Ásia. Tudo isso traz riscos de congestionamento permanente e de deterioração da qualidade do ar.
No entanto, a executiva confia que o consumidor está mudando suas atitudes e até de prioridade, pelo menos nos EUA. Em pesquisa com múltiplas respostas, 47% gostam de usar seus smartphones para planejar seus deslocamentos, 39% utilizam mais de um meio de transporte e 34% já admitem o transporte solidário em seus carros, se houvesse chance.
Assim, o trio conectividade, mobilidade e direção autônoma -- ou semiautônoma, no primeiro momento -- está nos planos dos grandes fabricantes. Com a eletrônica de bordo de hoje geram-se 25 GB de informações por hora e tal enorme massa de dados pode ser aplicada em soluções alternativas. "Seria muito bom combinar os dados de tráfego em tempo real de aplicativos como o Waze com a velocidade em que o limpador de parabrisa atua. Indicaria chuva pesada e a rota poderia evitar pontos de alagamento catalogados", exemplificou a executiva.
Klampfl acrescentou que o tempo gasto ao volante pode ser mais bem aproveitado, além de ouvir música ou noticiário. Com informações armazenadas em agendas telefônicas, a capacidade de computação de um automóvel pode organizar uma reunião de negócios ou adiantar o atendimento de triagem em um consultório médico.
Também não descartou a possibilidade de um operador guiar um veículo a distância usando câmera de vídeo, sensores e a rede de telefonia celular de alta velocidade. Seria a versão terrestre de um VANT (veículo aéreo não tripulado) ou drone. Experiências já são feitas em baixa velocidade, com carros de golfe adaptados, em um campus universitário em Atlanta, nos EUA.
No total, a Ford monitora 25 experimentos globais de mobilidade, sendo 14 de sua iniciativa e 11 de desafios de inovações em oito países. A partir de agora, o Brasil é o nono a participar desse esforço mundial.
Fernando Calmon
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