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Idosos são os que mais morrem em atropelamentos no Brasil

Escrito por Portal ONSV

02 OUT 2018 - 15H39

É necessário melhorar as políticas públicas que garantam segurança nos deslocamentos para quem tem mais de 60 anos

Primeiro de outubro é marcado pelo Dia do Idoso. A data motivou o OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária, por meio da parceria mantida com a Divisão de Engenharia de Transportes e Mobilidade da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a uma análise quanto ao crescimento da população a partir de sessenta anos no Brasil e qual o impacto nos acidentes de trânsito. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060 o percentual de pessoas com mais de 65 anos passará dos atuais 9,2% para 25,5% da população.

Por se deslocarem com mais frequência a pé, os idosos estão mais expostos, e consequentemente, são as maiores vítimas fatais como pedestres, representando 36% do total de atropelamentos registrados no país.  Entre os idosos, os ciclistas representam 28% dos óbitos, seguido dos condutores de veículos (16%) e motociclistas (6%), segundo dados compilados no estudo, cuja origem dos dados são do sistema Datasus.

Maior gravidade nos atropelamentos

Quando vítimas de um acidente por atropelamento, os idosos também estão mais sujeitos a lesões de maior gravidade, que podem levar a grandes períodos de internação hospitalar e lesões permanentes e imobilizadoras. Associados a outras doenças pré-existentes e por conta da vulnerabilidade devido à idade, os acidentes de trânsito acabam por representar um fator agravante aos efeitos colaterais em doenças estabelecidas anteriormente ao acidente, além de potencializar uma série de outras que não existiam, aumentando a assistência do estado e da família à vítima e a redução do período de vida, tanto de homens quanto de mulheres.

“Em vista dessa realidade, se faz necessária uma avaliação das políticas existentes e dos riscos associados a essa parcela da sociedade. É necessário que o poder público, junto com a sociedade, busque compreender as necessidades específicas que esse público tem em relação a população mais jovem. A partir de então, é possível traçar estratégias e políticas que no futuro venham a contribuir para a construção de uma sociedade acessível a todas as parcelas da população, principalmente as que demandam atenção mais especial”, explica o professor doutor Jorge Tiago Bastos, da UFPR e coordenador do estudo.

Estados mais inseguros para os idosos

A taxa total de óbitos por acidente de trânsito no Brasil em 100 mil habitantes (incluindo todas as faixas etárias) foi de 18,12 em 2016. Já a taxa nacional de óbitos entre os idosos, em 100 mil habitantes, foi 35% maior no país, ou seja, de 24,60/ 100 mil habitantes, no mesmo período analisado. Isso reforça que o risco de morte no trânsito entre os idosos é maior do que para o restante da população e deve ser observado.

Vale destacar ainda que muitos estados brasileiros apresentam valores muito acima da média – atingindo uma taxa de mais de 70 mortes por 100 mil habitantes idosos, conforme demonstra o gráfico abaixo.

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Taxa de óbitos no trânsito por 100 mil habitantes idosos (60 anos ou mais) por estado. Dados compilados pelo OBSERVATÓRIO

 

Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins são os estados brasileiros que apresentam pior desempenho na garantia de segurança nos deslocamentos da população idosa, com índices de 40 a 76 mortes por 100 mil habitantes.

Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Pará, Rondônia, Amazonas e Acre vem em um bloco intermediário, mais extremamente alto, com índices de 20 a 40 mortes de idosos em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes.

Já Amapá, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo são os estados mais seguros para os idosos no que se refere à mobilidade urbana, com índices de 16 a 20 mortes de idosos em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes.

Em um recorte mais detalhado para a população de 80 anos ou mais, apenas para o ano de 2016, foram mais de mil mortes no trânsito nessa faixa etária. É lamentável um indivíduo chegar aos 80 anos, o que pressupõe uma boa condição de saúde, e morrer de acidente de trânsito, uma causa externa evitável.

 

Políticas públicas necessárias

Para José Aurelio Ramalho, diretor-presidente do OBSERVATÓRIO, é necessário olhar para o envelhecimento da população brasileira a fim de garantir o direito de ir e vir com segurança. “A mudança no tempo de trabalho da população ativa, por meio da Reforma da Previdência também impactará nos números de acidentes de trânsito com idosos. É conveniente pontuar, sob a ótica da segurança viária, que tal mudança aumenta a exposição da população aos acidentes de trânsito, visto que essa parcela estaria mais representada diariamente no sistema viário nas viagens casa-trabalho-casa”, destaca Ramalho

Para promover e garantir a segurança nos deslocamentos dos idosos, algumas políticas públicas podem contribuir para garantir mais segurança aos idosos em seus deslocamentos:

  • Monitorar, avaliar e planejar políticas já existentes, como calçadas em melhores condições, tempo de semáforos adequados à mobilidade do idoso e, a partir disso, buscar enfrentar os problemas diagnosticados;
  • Melhorar o processo de habilitação para conduzir, tornando-o mais exigente em quesitos como travessia de pedestres e cuidados com a mobilidade coletiva;
  • Melhorar a oferta dos modos de transporte não motorizados, garantindo segurança nos deslocamentos dos modos ativos, pensando que esses modos também têm impactos positivos na saúde da pessoa idosa;
  • Melhorar a oferta de transporte público, para que o idoso tenha a opção de realizar suas viagens como passageiro, garantindo assim sua independência em relação à mobilidade

“É preciso então, conforme estabelecido no Estatuto do Idoso, garantir o envelhecimento com qualidade de vida e independência, sendo este um direito personalíssimo, e a sua proteção um direito social. É obrigação do Estado, assim como da sociedade, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade” completa Ramalho.

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