Você vai ouvir muito sobre chamadas emergenciais automáticas (eCall, em inglês) a partir de carros acidentados. A iniciativa vem da Ford que lançará o serviço – sem custo de utilização – no novo Ka, em setembro. Na realidade, eCall já é oferecido no Brasil pela Volvo, porém nesse caso pago por incluir mais opções e dispor de plantão 24/7. A Ford pretende estender o recurso para toda sua linha, a partir de 2015.
Hoje, no Brasil, há 41 milhões de telefones inteligentes (pouco além da frota real de veículos capaz de circular). Apesar de se agregar, como opcional, ao modelo mais barato da marca, na versão de entrada SE (R$ 35.395), o equipamento Sync de comandos de voz e pareável ao celular aparece de série na versão SE Plus por R$ 2.000 integrando a central multimídia com tela tátil. Isso permite o conceito correto de “olhos na estrada, mãos no volante”, sem sujeitar o motorista a multa de trânsito.
A ligação automática ao 192, do Samu, depende da deflagração do airbag ou de desligamento da bomba de combustível que ocorre em fortes colisões traseiras, laterais, tombamento ou capotagem. Há três situações de grande utilidade: ocupantes inconscientes ou imobilizados, mensagem padronizada repetida duas vezes e fornecimento ao atendente das coordenadas de localização do veículo. No caso de o carro sair da pista e se chocar com obstáculo, à noite em especial, pode não haver testemunhas do acidente e aí o eCall é ainda mais útil.
Óbvio que outros fatores intervêm no processo, a começar pela infraestrutura de telecomunicações, embora uma chamada de emergência ocorra por qualquer rede disponível, independentemente da utilizada pelo dono do telefone. A celeridade do socorro também precisa de eficiência. Essas pré-condições estão postas, dentro da realidade do País.
Há ainda um passo adicional: inclusão do chip telefônico no próprio sistema multimídia interativo. Certamente a Ford e outros fabricantes que não quiserem ficar para trás nessa corrida de prestação de serviços poderão oferecer essa opção. Entre outras vantagens, como melhoria de captação de sinal de celular, garante a eCall no caso de o telefone ter sido danificado em um acidente grave, o que de fato pode ocorrer, ou simplesmente sua bateria descarregar.
Essa iniciativa já existe em outros países, como o OnStar (serviço pago) da GM, nos EUA. A Ford também o introduziu na Índia, porém em modelos mais caros. A Europa, no entanto, procura tornar o serviço obrigatório desde 2004. Os problemas lá são parecidos aos daqui porque, embora bem menos graves, existem zonas de “sombra” de sinal celular em áreas remotas, a eficiência do socorro varia entre diversos países e ainda há a barreira de diferentes idiomas.
Em razão do sistema europeu ainda precisar de ajustes, além de investimentos públicos e privados, sofreu vários adiamentos. Agora há um novo prazo: outubro de 2017. Lá existe a consciência de valorizar a vida e do rápido socorro aos acidentados.
Os três níveis de governo no Brasil deveriam estar preocupados com este assunto em razão do aumento da frota, dos acidentes e da fraca cobertura celular. Por enquanto, se colocam a reboque dos fabricantes de veículos. Será que o Samu estará mesmo preparado para a previsível expansão das eCalls no Brasil e, mais do que isso, os hospitais?
Fernando Calmon
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