Os meios de transporte rodoviários são, em disparado, os mais perigosos entre os modais de transporte, com percentis de sinistros de trânsito que giram em torno de 97% do total de sinistralidade entre todos os existentes no país, conforme Boletim de Logística do Observatório Nacional de Transporte e Logística – ONTL, da INFRA S.A, do Ministério dos Transportes, que traz um levantamento sobre a acidentalidade no setor rodoviário brasileiro, por meio de análise de dados consolidados por órgãos e sistemas de informação como PRF, RENAEST, DATASUS – SIM, entre outros.
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde – OMS, do ano de 2018, o acumulado de mortes anuais indexa o Brasil na terceira posição desta, fatídica, classificação global. Diante desse cenário alarmante, entre os modais de transporte rodoviários, as motocicletas figuram em 1º lugar no ranking de mortes. Em números, tem-se 11.942 vidas que foram ceifadas, no ano de 2021, perfazendo um total de 36% das mortes provenientes de sinistros de trânsito, de acordo com as estatísticas do SIM-DATASUS, do Ministério da Saúde, divulgadas em 2023.
Em cifras, segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA em 2020, chegou-se ao montante de mais de R$ 50 bilhões gastos por ano com sinistros de trânsito, que equivale a aproximadamente 3% do PIB do país.
Nesse interim, considerando todo esse trágico contexto sustentado pela sociedade, hoje, 27 de julho comemora-se o Dia Nacional do Motociclista. Contudo, a data que é simbólica e solene, deve servir, substancialmente, como mola propulsora social para alternância do atual patamar nefasto que reside no âmbito da trafegabilidade, em que milhares de vidas são perdidas, equiparando-se a um cenário de guerra, sobretudo para os motociclistas que juntamente com os demais membros mais vulneráveis do trânsito, a saber: ciclistas e pedestres, somam quase 50% dos integrantes envolvidos em sinistros resultantes em mortes.
Deste modo, as motocicletas são, portanto, os veículos mais representativos em números nas vias de todo o Brasil, tanto em unidades quanto em sinistros que resultam em mortes e lesões de condutores, passageiros e pedestres. É possível tecer alguns fatores que agravam essa problemática, a luz de dados, pesquisas, análises e implementações como a do PNATRANS que trazem pilares para abordagens pautadas no Sistema Seguro, na Visão Zero e no conceito de Ruas Completas.
Por conseguinte, tem-se como alguns desses pressupostos fatores intensificadores, a título de exemplo: o aumento do número da frota de motocicletas (que seja por comodidade pessoal, diminuição do tempo de locomoção/viagem, baixa qualidade e/ou falta de incentivo para uso de modais de transporte coletivo e de mobilidade ativa, menores custos de aquisição e manutenção em comparação com automóveis ou quer seja por ser um modal bastante utilizado para a geração de renda – principalmente com o crescimento do setor de delivery que se utiliza desse meio de transporte pela praticidade e agilidade no serviço-); a baixa quantidade de fiscalizações voltadas prioritariamente para esse modal que é destaque negativo entre os demais; a reduzida aplicabilidade da regulamentação e normativos existentes; a inexistência da acreção de medidas mais rigorosas para as situações que agravam a problemática dos sinistros de trânsito; a pequena quantidade de campanhas educativas assertivas e contínuas; a baixa qualidade das vias de tráfego do país e dos aparatos de segurança viária; o reduzido subsídio para o incremento da segurança deste modal; a existência de elevado número de condutores inabilitados, principalmente nas cidades do interior dos estados da Federação; e a praxe de desrespeito as sinalizações de trânsito, ao excesso de velocidade que os condutores desse modal empreendem, a condução simultânea com a manipulação de aparelhos telefônicos, tabletes ou similares ou, simplesmente, ao desuso dos equipamentos de segurança obrigatórios tanto pelos condutores quanto por parte dos passageiros.
Em face desses fatores agravantes exemplificados acima que fazem parte de um rol ainda mais extenso, é possível afirmar que todos os pontos já são de senso comum e sobremaneira indicados pelos órgãos que coletam e analisam dados estatísticos acerca do trânsito à nível local, regional e global como promotores e motivados de significativa parcela dessa adversidade que acomete o maior espaço de convívio social que é o trânsito. Contudo, o ato humano de falta de empatia e de saúde/responsabilidade emocional dentro desse contexto não é apontado como, talvez, o principal responsável por toda essa problemática que permeia a sinistralidade do trânsito.
Após se analisar o apanhado teórico e as postulações trazidas, a pergunta inquietante surge: Qual vida é mais importante para você? A que trafega em automóveis, caminhões, ônibus ou aquela que se desloca a pé, de bicicleta ou fazendo uso de motocicleta? Essa pergunta traz uma série de desdobramentos. Podemos ir além nas indagações. Qual vida é mais importante para você? A vida de quem recebe os produtos em sua casa (comida, remédio, encomendas, compras diversas) ou a vida de quem faz o trabalho logístico de transporte (caminhoneiros, motoristas, motoqueiros, ciclistas mensageiros)?
Reflita! Cada um tem sua parcela contributiva nas patologias do trânsito. É preciso enxergar o problema por outro prisma. Sobretudo, é pujante que a sociedade como um todo priorize o “ser humano”, antes de mais nada, em todas as formas que esse termo pode significar, afinal empatia e responsabilidade nunca são demais e não devem entrar em desuso em lugar algum e nem sob qualquer circunstância.
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